No mundo corporativo, a figura do CEO, do líder de negócios, atrai os holofotes pela aura de poder e influência que cerca os grandes decisores. Mas e quando este decisor precisa de conselhos, feedbacks e direcionamentos? A chamada “solidão do poder” é um problema é mais comum do que se imagina: praticamente metade dos CEOs sentem-se isolados em seus cargos – com efeitos negativos no desempenho de pelo menos 61% deles, aponta pesquisa divulgada pela Harvard Business Review.
O caminho natural para empresários nesta situação é montar um conselho de administração em suas empresas, formado por executivos e investidores com larga bagagem no mercado – contudo, é uma solução praticamente inviável em termos de custos para empresas de pequeno e médio porte.
“A solidão do poder é a grande dor para estes executivos. Chega uma hora que, sozinho, o líder não sabe mais o que fazer”, comenta o psicoterapeuta e empreendedor Gustavo Succi, que atuava como mentor até receber o convite de uma empresa de tecnologia para montar um board (conselho) com executivos de grandes corporações. A ideia deu certo e gerou ótimos resultados, mas não era aplicável para o mercado em geral por dois motivos: o custo de um board para empresas de menor porte (como são grande parte das startups e scale-ups do país) e a falta de conselheiros experientes disponíveis.
Este foi o insight para a criação de um novo modelo de negócio: a formação de board compartilhado em que as reuniões envolvem várias empresas e conselheiros, em um ambiente de transparência e compartilhamento de dores e experiências em comum. Assim surgiu, em 2018, o Conselho Mudando o Jogo (CMJ), que já implantou boards para 80 empresas do país ao mesmo tempo em que transforma executivos em conselheiros, retroalimentando o propósito.
“Reunimos empresas de diferentes segmentos num mesmo conselho para análises, definição de estratégias e construção do plano de ação em temas como Governança Corporativa, Finanças, Gestão e Nova Economia, liderados por conselheiros experientes”, explica Succi sobre o modelo “as a service”.
O CMJ coordena conselhos de 80 empresas do Brasil e o programa inclui reuniões presenciais bimestrais, nas quais as empresas compartilham suas percepções e aprendem umas com as outras. “O grande barato desse modelo”, completa, “é que você cria grupos de 4 a 6 empresários que, além de serem coordenados por um conselheiro ‘formal’, eles mesmos trocam aconselhamentos entre si, compartilhando as dores e as alegrias”.
Ao todo, são 18 grupos divididos de acordo com o grau de complexidade (e tamanho) dos negócios. “Tem grupo em que a menor empresa fatura mais de R$ 300 milhões por ano. Já outro grupo tem negócios menores, com faturamento em torno dos R$ 5 milhões/ano. Mas em geral essas empresas crescem muito rapidamente – e buscam esse modelo de board as a service justamente em função das dores do crescimento”, explica o fundador.
FORMANDO CONSELHEIROS PROFISSIONAIS
Uma das premissas é quebrar a sisudez das reuniões de board – e os encontros aplicados pelo Conselho Mudando o Jogo nunca começam sem um período de meditação. “Quando você acha o grupo, não está mais sozinho. Mas para isso é preciso criar um ambiente de segurança e confiança, uma estrutura que florescesse a vulnerabilidade e que colocasse necessidades pessoais para discussão dentro dos conselhos. Não adianta discutir DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) sem uma base sobre o lado humano do empreendedor”, explica.
Em 2022, o CMJ passou a oferecer também o modelo de formação de conselheiros profissionais, o “Conselho do Futuro”, que está na terceira turma. Os “alunos” devem ser, em geral, executivos com uma experiência de pelo menos 5 anos liderando negócios. Mas não é só isso. Além dos conhecimentos técnicos (gestão, financeiro, planejamento estratégico), algumas soft skills são fundamentais “é preciso ter escuta ativa, ser empático e estar com a terapia em dia, pois não dá para aconselhar alguém se você não cuidou nem de si mesmo”, reforça.
A metodologia é formada por 60% de conhecimento prático e 40% de conteúdo teórico, que envolve o desenvolvimento de human skills, habilidades humanas que muitas vezes acabam sendo deixadas de lado no dia a dia da gestão. Segundo Succi, é a única formação disponível no mercado brasileiro com aula prática de um conselho real.
CHEGADA AO AMBIENTE EMPREENDEDOR DE SANTA CATARINA
O Conselho Mudando o Jogo está expandindo seu alcance por meio de franquias – uma das mais recentes em Santa Catarina, estado conhecido pelo espírito empreendedor e o ambiente de startups e scale-up. “Escolhemos SC por propósito, é um estado extremamente empreendedor e é natural levarmos esse modelo para o ecossistema”, destaca Succi. A partir do segundo semestre, serão realizados eventos em parceria com entidades como Associação Catarinense de Tecnologia e LIDE – em março, o CMJ foi apresentado a empreendedores locais durante evento na ACATE, em Florianópolis.
Em Santa Catarina, um dos líderes do CMJ é Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli – empresa do mercado imobiliário que construiu nos últimos anos uma venture builder para desenvolver e apoiar startups, e que no início deste ano firmou parceria com uma das maiores empresas do setor no Sul do país, a Crédito Real. “Trazer o CMJ para o ambiente empreendedor de SC vai ajudar a dar velocidade e robustez aos negócios locais, reduzindo a taxa de mortalidade das empresas. É uma ferramenta muito eficaz na jornada dos empreendedores, especialmente aqueles que estão sentindo-se solitários na caminhada e que não tem a capacidade de investimento em um conselho de administração tradicional”.
O CMJ ficará responsável pela curadoria do prêmio de Governança do LIDE Santa Catarina, avaliando o nível de maturidade das empresas associadas e apoiando o desenvolvimento. Além disso, já vem organizando eventos com executivos e empreendedores do estado para debater temas e tendências de disrupção nos negócios – como o surgimento da Inteligência Artificial generativa – e como isso vai impactar a gestão e o desenvolvimento de produtos e serviços.
“O grande aprendizado é ver um lado que não está presente nos conselhos de administração, que junta mentoria e uma discussão muito bem estruturada sobre as habilidades necessárias, em um ambiente muito seguro para que possamos exercer nossas fragilidades”, define Barbosa. “Nos conselhos tradicionais, o empreendedor acaba sendo mas sabatinado, escrutinado do que efetivamente aconselhado, e esse é o propósito do CMJ”, conclui o executivo e conselheiro.
Fonte: SC INOVA
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