A empresa que adota este modelo precisa estar disposta a assumir riscos, experimentar novas ideias e adotar uma abordagem mais colaborativa – ou seja, se abrir a novas formas de trabalhar e de pensar.
Por Marcus Rocha, especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação e Gerente de Inovação e Startups do Sebrae/SC.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova.
A inovação aberta tem se tornado uma tendência crescente nas organizações modernas, que buscam se manter competitivas em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente. Ou seja, é um elemento cada vez mais relevante para a sobrevivência e o sucesso das empresas. A partir da abertura dos processos de inovação para parceiros externos, a inovação aberta possibilita a criação de novos produtos e serviços, além de aprimorar processos e melhorar a eficiência organizacional. No entanto, para que a implantação da inovação aberta seja efetiva, é necessário uma mudança cultural significativa dentro da organização.
Importante ressaltar que a Inovação Aberta evolui e complementa as práticas até então desenvolvidas nas organizações para criar soluções novas ou significativamente melhoradas em relação ao que existe no mercado, com o objetivo de desenvolver recursos estratégicos que promovam vantagem competitiva, o que atualmente é fundamental considerando o nível global e intenso da concorrência. Nesse contexto, cabe destacar o que o próprio criador da expressão Inovação Aberta, Henry Chesbrough, escreveu em um artigo na Revista Forbes em 2011:
- “Conceitualmente, [a inovação aberta] é uma abordagem mais distribuída, mais participativa, mais descentralizada da inovação, baseada no fato observado de que o conhecimento útil hoje é amplamente distribuído, e nenhuma empresa, não importa quão capaz ou grande, poderia inovar efetivamente por conta própria.“
Claramente se percebe que um pressuposto básico para implantar estratégias, táticas e processos de inovação aberta é realizar a abertura das fronteiras das organizações para os ecossistemas de inovação. Isso, na maior parte delas, é um desafio e tanto, pois exige mudanças significativas na cultura, pois pode ser um fator decisivo para o sucesso ou fracasso dessas iniciativas.
Antes de avançar no assunto, é importante relembrar o que é cultura organizacional. A definição mais aceita foi criada em 1984 por Edgar Shein no artigo “Coming to a New Awareness of Organizational Culture” (“Chegando a uma Nova Consciência da Cultura Organizacional”), publicado na revista Sloan Management Review. Segundo ele, é um conjunto de pressupostos básicos que determina a maneira como os funcionários interagem entre si e com o ambiente de trabalho e, consequentemente, como a organização lida com mudanças e desafios. Com isso, cria-se uma espécie de ‘cola social’ que une as pessoas que fazem parte de uma organização, que expressa os valores, crenças e ideias que essas pessoas compartilham, e que se manifesta na forma de símbolos, linguagem, cerimônias, histórias, comportamentos, normas etc.
A implantação da inovação aberta requer uma mudança cultural para que a organização esteja preparada para lidar com a abertura de processos de inovação para parceiros externos. Isso significa que a organização precisa estar disposta a assumir riscos, a experimentar novas ideias e a adotar uma abordagem mais colaborativa. Além disso, a cultura organizacional precisa estar aberta a novas formas de trabalhar e a novas formas de pensar.

A MUDANÇA CULTURAL COMEÇA PELA LIDERANÇA
Os líderes da organização precisam estar comprometidos com a implantação da inovação aberta e serem os principais promotores dessa mudança cultural. Eles precisam criar um ambiente propício para a inovação, incentivando o compartilhamento de ideias e a colaboração entre os funcionários e parceiros externos. E isso deve se traduzir não apenas no discurso, mas principalmente em estratégias traduzidas em ações efetivas.
Nesse sentido, quanto mais fechada e formal for a organização, maior será este desafio. Primeiramente, como já dizia Peter Drucker “a cultura come a estratégia no café da manhã“, então o esforço para implantar as mudanças precisa ser trabalhado com muita atenção e com prioridade total. Também é importante considerar que a inovação, por sua natureza, traz fricção para a organização, pois é um elemento de mudança. Esse assunto inclusive já foi tratado nesta coluna, a partir do provocativo artigo de Steve Blank que fala sobre o ‘teatro da inovação nas organizações’.
Outro fator importante para a mudança cultural é a comunicação. É importante que a organização se comunique claramente com os funcionários sobre os objetivos e benefícios da inovação aberta, e sobre o papel que cada um pode desempenhar nesse processo. A comunicação deve ser transparente e aberta, e deve incentivar o feedback e a participação dos funcionários. Outro ponto importante é o incentivo ao compartilhamento de conhecimento entre as equipes, além de criar incentivos para que as pessoas se envolvam na inovação aberta.
Nota-se aqui que vários aspectos da cultura organizacional passam a ser impactados. Ao incorporar a inovação aberta, novas expressões e cerimônias passam a ser utilizadas, incluindo cada vez mais parceiros externos. Com isso, novos desafios surgem, exigindo inclusive o ajuste das normas da organização, equilibrando a abertura dos canais com uma quantidade cada vez maior de parceiros, com questões práticas tais como compliance, segurança das informações, propriedade intelectual, entre outros.
Fonte: SC Inova
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