26/09/22
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou que o Brasil está diante de uma série de oportunidades com o atual contexto geopolítico e econômico mundial.
Esse foi o tema da Reunião do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), realizada nesta sexta-feira (23) no escritório da CNI em São Paulo. Durante o encontro, líderes empresariais, especialistas e pesquisadores debateram a importância da indústria e da inovação diante das profundas transformações globais, em especial dos desafios impostos pela reorganização da lógica de produção.
“Os investimentos em inovação são essenciais para a indústria brasileira aproveitar as oportunidades que estão se abrindo com o processo de reestruturação das cadeias globais de valor e para conquistar um lugar de maior destaque no concorrido mercado mundial”, enfatizou Robson Andrade.
Ele observou que os debates sobre os riscos desses arranjos produtivos, como a concentração da produção em poucos países e a elevada dependência de um pequeno número de fornecedores, se intensificaram com os impactos da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia sobre a fabricação e o transporte de mercadorias em todo o mundo.
Representantes de duas grandes indústrias com atuação no país apresentaram estratégias globais de posicionamento, a partir desse novo contexto da globalização. Para Daniel Moczydlower, CEO da Embraer-X, que está desenvolvendo o “carro voador”, a posição ruim do Brasil em rankings globais de inovação traz preocupação e mostra que “o nosso dever de casa é grande”, mas ao mesmo tempo aponta para um caminho de oportunidades.
“Nosso país tem condições de se reposicionar, mas tudo isso depende de políticas de Estado de longo prazo para que possamos construir esse caminho e ocupar esse espaço”, destacou o CEO da Embraer-X.
“Talvez seja o último trem, e o Brasil não pode perdê-lo. As nossas reformas precisam ser discutidas e avançadas. O país precisa aumentar sua produtividade e ter disposição para de fato inovar”, completou Moczydlower.
O vice-presidente da Siemens Energy para a América Latina, André Clark, avalia que o país deve se posicionar e ganhar relevância a partir de fatores como as mudanças climáticas e o novo jogo geopolítico. “O Brasil e a América Latina se configuram como produtores de energia renovável com os valores mais baixos do planeta. Estamos diante de uma ótima oportunidade”, pontuou Clark.
O chefe da seção de pesquisa de políticas de tecnologia e inovação na divisão de tecnologia e logística da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Clovis Freire Junior, traçou um cenário sobre os desafios do Brasil no panorama geopolítico. Segundo ele, Estados Unidos e China estão se tornando os dois principais polos da Indústria 4.0 neste momento de revolução tecnológica.
“Os produtos que o Brasil exporta com vantagem competitiva são bem específicos como petróleo, aviões e carne bovina. O desafio é promover a diversidade econômica no Brasil, com novos produtos sendo adicionados. É preciso criar condições para o aumento da digitalização e da Indústria 4.0”, destacou Freire Junior.
O secretário executivo interino da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Mario Cimoli, considera que o Brasil precisa com urgência investir na retomada de uma indústria forte, fator, segundo ele, essencial para a recuperação econômica. “As economias mais diversificadas e completas estarão mais preparadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para serem mais sustentáveis. Não existe milagre de crescimento se não houver políticas industriais e tecnológicas de longo prazo que concedam incentivos aos setores mais dinâmicos”, frisou Cimoli.
Rever teto de gastos pode ser estratégico para assegurar recursos para CT&I
Para o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho, que esteve na reunião, é preciso revisar mecanismos que se tornaram obstáculos aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Ele defende que o poder público atualize as regras do teto de gastos, que estabelece limites para gastos federais sob a justificativa do equilíbrio fiscal.
“A lição recente mostra que o teto reprime a capacidade de investimento do setor público e o tornou a única variável de ajuste. Então, precisamos preservar o lado bom do teto e aperfeiçoá-lo, porque os investimentos geram retorno”, afirmou.
“Os investimentos em CT&I têm uma taxa de retorno elevada para a sociedade e para a receita tributária futura. Podemos ter um teto de gastos, mas não um teto de investimentos”, acrescentou Luciano Coutinho.
Atualmente, o Brasil investe apenas 1,17% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Esse percentual é muito inferior ao de países que se destacam na agenda de inovação, como Israel – que investe mais de 5% do seu PIB para P&D, China (4,64%), Japão (3,2%) e Estados Unidos (3,07%). A média de investimentos entre os países da OCDE é 2,48% do PIB. As empresas que fazem parte da MEI, no entanto, se caracterizam por priorizar essa área como estratégia de crescimento.
MP limita uso de principal fundo de financiamento à inovação no país
No fim de agosto, o governo editou a Medida Provisória 136/2022, que limita o uso de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento à inovação do país. O secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, Sérgio Freitas de Almeida, disse na Reunião da MEI que, apesar das limitações impostas pela MP, não houve cancelamentos das operações já realizadas com base em recursos do FNDCT e que ainda há saldo a executar.
“A MP impacta, mas o valor que temos hoje é bastante superior ao que tínhamos em anos anteriores. A demanda (por projetos de CT&I) é muito maior que isso, mas não deixa de ser um número expressivo com o qual estamos trabalhando”, disse.
Líder da MEI, o empresário Pedro Wongtschowski pontuou que a CNI já se manifestou formalmente contrária à MP 1.136/22, em ofício entregue ao Senado Federal, onde a medida será votada. “A posição oficial da CNI é de que a MP é inconstitucional. Esperamos que ela seja derrubada, mas provavelmente já terá gerado efeitos irreversíveis em 2022”, afirmou Wongtschowski.
Fonte: CNI
Deixe um Comentário