14/09/2020
Automação e desemprego
Embora se acreditasse que o crescimento da automação industrial levaria a empregos menos qualificados – os mais qualificados seriam automatizados por serem mais caros e cruciais -, geralmente é o inverso que tem-se mostrado verdadeiro.
Ocorre que os sistemas modernos de fabricação são tão complexos que é necessária uma habilidade considerável para operá-los.
“Mesmo máquinas muito avançadas não podem funcionar completamente de forma autônoma; ainda há uma forte necessidade de um ser humano para supervisioná-las,” afirma a professora Valeria Villani, da Universidade de Modena e Reggio Emilia, na Itália. “Os trabalhadores precisam interagir com sistemas muito complexos, às vezes sob condições difíceis e estressantes, como um ambiente barulhento ou horários apertados”.
Villani é a gerente técnica do recém-finalizado projeto INCLUSIVE, financiado pela União Europeia, focado nas necessidades de pessoas com dificuldades para trabalhar com máquinas automatizadas.
As exigências desses empregos podem tirar oportunidades de trabalhadores mais velhos ou com baixa escolaridade, ou pessoas com deficiências. “O objetivo do projeto INCLUSIVE era criar um ambiente de trabalho inclusivo,” disse Villani.
Automação adaptativa
O cerne do esforço foi o que Villani chama da automação adaptativa: a ideia de que as máquinas deveriam acomodar as necessidades de seus operadores humanos, e não o contrário.
Normalmente, os operadores interagem com as máquinas industriais modernas através de uma tela sensível ao toque, conhecida como interface humano-máquina (IHM). “Propusemos mudar o comportamento da máquina e da IHM de acordo com a condição do trabalhador,” explica Villani.
Isso criou uma nova IHM (interface humano-máquina) composta por três módulos. O primeiro avalia as habilidades e necessidades de cada trabalhador. Isto é feito através da construção de um perfil com base na idade e na experiência, mas também incluindo o monitoramento em tempo real das habilidades perceptivas e cognitivas, estresse fisiológico e desempenho real na operação da máquina.
O segundo módulo lida com as adaptações da interface, que podem variar de simples mudanças no tamanho da fonte, para ajustar a visão, até limites no nível de funcionalidade que o usuário pode controlar. Em alguns casos, o sistema sugere configurações padrão para os parâmetros da máquina; em outros, os tipos de alarmes sinalizados ao operador são adaptados à sua capacidade para poder lidar com eles.
O terceiro módulo se concentra no treinamento e suporte. Sistemas de realidade virtual ajudam os trabalhadores a aprender a usar as máquinas, enquanto o monitoramento em tempo real detecta quando os operadores estão ficando cansados ou cometendo erros. Em cada caso, a IHM oferece sugestões e orientações.
Colaborando com as máquinas
A nova IHM desenvolvida no projeto foi testada em três empresas. Pesquisas com os trabalhadores que participaram dos testes mostraram que 80% acharam que as mudanças os ajudaram a trabalhar melhor com suas máquinas e a serem mais produtivos, executando tarefas mais rapidamente e com menos erros.
Oito produtos em potencial foram identificados para comercialização, incluindo metodologias e software, além da própria plataforma de IHM adaptável. Um dos parceiros teve resultados tão bons que está “reestilizando totalmente” suas interfaces de usuário, contou Villani, aproveitando as ideias e descobertas do projeto, enquanto outros continuam trabalhando nas inovações.
A pesquisadora acredita que a indústria já está se movendo em direção a uma forma mais colaborativa de automação. “Embora as máquinas tenham suas próprias vantagens – elas são muito precisas e confiáveis e podem trabalhar 24 horas por dia – as habilidades sociais dos trabalhadores humanos também são importantes e muito difíceis de replicar nas máquinas. A união desses diferentes recursos pode ser a chave para a prática industrial no futuro.”
Fonte: Inovação Tecnológica
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