23/03/22
A Era da Digitalização, da Tecnologia da Informação e das Telecomunicações proporcionou o desenvolvimento de computadores pessoais, instrumentos de controle digitais, softwares e circuitos integrados, em uma enorme gama de produtos e serviços inovadores. Vivemos a transição para uma nova revolução tecnológica, que nasce da nanotecnologia, da biotecnologia, da computação quântica e da inteligência artificial, em que há possibilidade de convergência dos mundos físico, digital e biológico, tornando o custo das coisas mais acessível e abrindo novas oportunidades de desenvolvimento econômico e social. Aí está a ignição para a Quinta Revolução Tecnológica.
Apesar do crescimento maciço dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e do aumento dos registros de propriedade intelectual, parece que os recentes desenvolvimentos tecnológicos não dinamizaram o crescimento econômico e a produtividade nas economias de alta renda. Alguns fatores, provavelmente, contribuíram para essa situação, tais como o envelhecimento populacional e o aumento da desigualdade de renda e riqueza. Não obstante, a estagnação parece não ser global, já que o dinamismo da inovação acelerou na maioria das economias emergentes, especialmente as asiáticas. No Brasil, infelizmente, a última década foi insignificante em termos de crescimento econômico e da redução de desigualdades sociais, bem como da incorporação de ações inovativas, principalmente nas pequenas e médias empresas.
Uma visão otimista do futuro sugere que a pandemia da covid-19 e as consequentes medidas de bloqueio global ampliaram a velocidade e a disseminação de novas tecnologias, e que estamos testemunhando o início do “Renascimento da Inovação”. A ciência está viabilizando grandes transformações em todos os setores da indústria – não apenas na área de tecnologia de informação e comunicação (TIC) – no mesmo nível ou em patamar superior ao das mudanças anteriores, o que tem impulsionado a produtividade das empresas.
A Quarta Revolução Industrial, que já está em curso, tem possibilitado inovações em diversas áreas, como agricultura, medicina e saúde. Estão ocorrendo também avanços importantes em microbiomas, fotogenética, bioeletrônica e nanotecnologia para materiais, entre outros. Neste contexto, o Brasil tem potencial para se tornar líder mundial em diversos setores, tais como novos materiais verdes e alimentos, incluindo bens de capital, insumos e serviços correspondentes, ao mesmo tempo em que continua a atender os mercados doméstico e mais próximos com bens de consumo. Para isso, entretanto, é preciso que haja um processo inovativo contínuo, uma vez que, além de mudar o que e como se produz, as revoluções tecnológicas transformam a natureza dos mercados, assim como o tipo de organização das empresas e suas relações.
A sustentabilidade é imperativa para que os avanços nessa área ocorram. Várias políticas públicas e planos de desenvolvimento têm priorizado os desafios da conservação dos recursos naturais, formando quase um consenso sobre os rumos da humanidade, como a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis, a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa e a construção de infraestruturas resistentes a mudanças climáticas. O cerne dessa transformação deve ser as pessoas, porque elas são os agentes que lideram e implementam os projetos inovadores. Portanto, têm de ser tratadas adequadamente.
A transição está no limiar de duas revoluções, a atual e a futura. A busca pela substituição da energia fóssil para a renovável e a redução radical de lixo e do uso de materiais e de energia apontam nessa direção. Mais do que nunca há necessidade, também, de se acelerar a digitalização das empresas industriais, principalmente as de médio e pequeno porte. A preservação das florestas, em especial a amazônica, é igualmente importante, pois cria a possibilidade de surgimento de novos negócios para a região e para o país, sobretudo na área de bioeconomia.
Ressalte-se que as nações que conseguiram dar um salto de desenvolvimento tiveram o Estado como indutor dessa transformação. A ideia de um mercado livre sem políticas públicas eficientes não existe em nenhum país. Também não há nenhum caso em que se conseguiu avançar no campo da inovação sem uma forte aliança entre o Estado, a indústria e a academia. Outros fatores cruciais são a adequação de políticas públicas e seus instrumentos, o aumento de investimentos em P&D, a formação e o treinamento das pessoas, a melhoria da qualidade da educação em todos os níveis e a capacidade do setor privado de aproveitar as oportunidades criadas.
É necessário e urgente identificar e fazer valer os diferenciais do Brasil, definir objetivos claros e formular estratégias para alcançá-los. Para isso, é fundamental que haja mais investimentos em inovação, instituições tecnicamente preparadas, sistemas educativos eficientes, alianças tecnológicas, tanto nacionais quanto internacionais, e uma abertura comercial pragmática e vantajosa para o país. Apenas com uma estratégia de desenvolvimento ousada será possível dar um salto para a próxima revolução tecnológica, utilizando os recursos disponíveis para construir uma nova era, baseada nas tecnologias do futuro, como biotecnologia, nanotecnologia, bioeletrônica, medicina personalizada, novos materiais e energias renováveis.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que reúne mais de 500 líderes empresariais, vêm trabalhando, desde 2008, com vistas a identificar lacunas e formular propostas para que a inovação esteja no centro das estratégias das empresas, tornando a indústria brasileira mais forte e competitiva e proporcionando qualidade de vida para a população. Precisamos formar líderes que tenham visão de futuro e saibam construir um consenso estratégico estável, de longo prazo, que seja duradouro ao perpassar governos e que conduza o Brasil a um novo patamar de desenvolvimento social e econômico sustentável.
Esses e outros temas serão debatidos no 9º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, que será realizado por CNI, SESI e SENAI, em parceria com o Sebrae, em 9 e 10 de março. O evento poderá ser assistido, gratuitamente, por meio de uma plataforma digital com capacidade para mais de 15 mil acessos simultâneos. Ao longo dos dois dias, 77 palestrantes vão apresentar as tendências e os desafios da inovação no Brasil e no mundo. A principal mensagem do Congresso é que, sem uma indústria inovadora, não haverá futuro para o Brasil.
*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Fonte: CNI
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