23/10/2020
Até o início de 2020, a migração de negócios para a Indústria 4.0 encontrava-se imersa em uma realidade de testes e implementações de variadas tecnologias conectadas nas indústrias de manufatura e de máquinas pesadas. Sensores de alta qualidade, redes robustas, sistemas de computação poderosos, Inteligência Artificial e tecnologias imersivas, incluindo Realidade Aumentada e Virtual, estavam a pleno vapor – até a chegada do coronavírus.
Escritórios, lojas, restaurantes, hotéis, navios, escolas e fábricas tiveram de ser fechados ou abandonados. Equipes foram drasticamente reduzidas e as interrupções decorrentes do aumento assustador da Covid-19 expuseram ainda a limitada resiliência da maioria das máquinas pesadas e de negócios industriais dependentes de processos manuais. Certos serviços essenciais, como utilitários, continuaram operando em níveis pré-pandêmicos, enquanto outras instalações industriais reabriram com cautela, tentando equilibrar suas necessidades operacionais com a segurança de seus funcionários. Mas, como acontece com qualquer contratempo, as pessoas continuaram a perseverar, planejar e inovar.
Antes da chegada da Covid, o impacto da Indústria 4.0 podia ser sentido de várias maneiras. Um dos exemplos são as tecnologias de manufatura aditiva industrial, um mercado avaliado em mais de US$ 10 bilhões, que romperam com as tradicionais cadeias de abastecimento e desafiaram processos “subtrativos” estabelecidos, como a usinagem de blocos de metal. A partição biônica de estilo orgânico do Airbus é outro exemplo que corrobora a inovação. Ocorreram também grandes progressos e mudanças no processamento de dados envolvendo sensores de última geração, Inteligência Artificial, computação de alto desempenho e Machine Learning avançado. Como resultado, sistemas não tripulados passaram a compreender comandos complexos e executar tarefas complicadas com o mínimo de intervenção humana.
Exemplos de tal potencial disruptivo não faltam e os robôs ‘Scout’, da Amazon, e o LBR iiwa, da Kuka Robotics’, estão aí para provar. Agora, ainda que em plena pandemia, organizações de todos os tamanhos estão percebendo que, para serem competitivas, as tecnologias digitais precisam ser implementadas em todos os seus negócios e funções operacionais. As indagações mudaram de “como criamos uma fábrica inteligente?” para “como mantemos a produção durante este tempo?”. E as respostas têm acelerado a adoção de novas tecnologias e digitalização de processos. Funcionários e colaboradores agora trabalham em esquema home office e as ferramentas de colaboração digital foram amplamente adotadas. Como resultado, os mundos digital e físico de um trabalhador agora convergem em muitas áreas e variam desde sistemas cyber físicos e gêmeos digitais que preveem problemas em tempo real ao longo da trajetória de uma ferramenta de usinagem, por exemplo, a reparos e manutenção também em tempo real usando aplicativos de Realidade Aumentada para smartphones e óculos inteligentes.
Essa convergência se torna ainda mais evidente com os mais recentes aplicativos de RA, que permitem ao usuário interagir com um ambiente do mundo real – adicionando objetos virtuais que se fundem, harmonizam e integram, fornecendo ao usuário um feedback visual realista e uma experiência mais envolvente. Em recente artigo, o jornal norte-americano Wall Street Journal informou que uma fábrica de semicondutores da Intel, no Arizona, teve problemas que bloquearam os serviços e precisava recalibrar suas máquinas em conjunto com a instalação de novos equipamentos para atender à crescente demanda. No entanto, o engenheiro especialista nesse tipo de trabalho ficou preso na Alemanha por conta das restrições aos voos transatlânticos provocadas pelo coronavírus.
A solução?
Ao reaproveitar um conjunto de óculos inteligentes de Realidade Aumentada, os trabalhadores do Arizona puderam mostrar ao engenheiro qual era o problema, permitindo que ele os conduzisse durante os reparos. O artigo também observou que o uso de óculos de RA pelas concessionárias Volkswagen e Porsche nos EUA triplicou durante a pandemia, à medida que os técnicos buscavam ajuda virtual de especialistas localizados a centenas de quilômetros de distância. Além disso, a Gerber Technology utiliza a tecnologia de Realidade Aumentada para corrigir remotamente cerca de 85% dos problemas de seus clientes, o que equivale a mais de dois dias de inatividade economizados em média.
A Hurco, fabricante líder de máquinas-ferramenta CNC, também faz uso de RA para apoiar seus clientes globais com manutenção preventiva e suporte para técnicos envolvidos com inspeção, reparo e manutenção. Tais exemplos pontuam claramente que as empresas estão mudando de cenários hipotéticos de RA para casos de uso pragmáticos, resultando em melhor eficiência, maior produtividade e maior segurança. A tecnologia está preparada para otimizar a cadeia de valor para organizações de todos os tamanhos e em diferentes segmentos, incluindo os setores aeroespacial, automotivo, manufatura, petróleo e gás, com aplicações práticas como orientação remota e assistência especializada.
Ainda assim, os fabricantes enfrentam hoje uma combinação de mercados globais turbulentos e mudanças demográficas de funcionários. A automação e o aprendizado de máquina avançado, embora promissores, ainda não reduziram os encargos dos montadores, operadores ou técnicos. Embora os centros de operação, com o tempo, tenham se tornado geograficamente descentralizados para atender às demandas regionais, a disponibilidade de trabalhadores qualificados pouco se manteve, levando a uma disparidade no conhecimento e na experiência da força de trabalho.
Na última década, muitas empresas designaram especialistas de suas diferentes redes de instalações para prestar suporte aos clientes locais. Mas as restrições resultantes da pandemia de COVID-19 interromperam esse esquema. O ‘novo normal’ se traduziu em uma combinação de severas restrições de viagens, falta de treinamento prático, menos equipe no local e cadeias de abastecimento interrompidas. Isso levou as empresas a repensar maneiras de acelerar a otimização de seus processos e de gerar melhorias de produtividade para aprimorar o desempenho dos negócios. Em resposta, algumas organizações adotaram tecnologias de RA para manter a continuidade dos negócios enquanto reduzem impactos na saúde.
A assistência remota usando Realidade Aumentada permite que os especialistas se conectem em tempo real com os usuários no local de necessidade para oferecer orientação envolvendo inspeção, reparo ou manutenção – tudo dentro do contexto de aplicativos reais. A oportunidade de amplificar digitalmente as imagens do mundo real a partir de um local remoto aumenta significativamente a clareza da comunicação e melhora a colaboração. A mesma tecnologia está sendo utilizada inclusive para treinamento pós-venda de usuários e operadores. Considere, por exemplo, os inúmeros casos de Manutenção, Reparo e Revisão (MRR). As atividades de MRR não estão apenas entre as áreas mais críticas da engenharia para o crescimento econômico e operações industriais como também são candidatas ideais para a tecnologia de RA em economias desenvolvidas e emergentes.
O mercado global de Realidade Aumentada em MRR foi avaliado em US$ 403,3 milhões em 2018 e deve atingir US$ 3,3 bilhões em 2024, crescendo a uma Taxa de Crescimento Anual Composta de 42,1% durante o período de previsão 2018-2024. Ao mesmo tempo, no entanto, o uso de RA de maneira segura, produtiva e consistente em uma configuração de fábrica exige a alteração dos procedimentos operacionais da planta, entre eles distinguir entre as operações que precisam ser feitas no local daquelas que podem ser feitas remotamente, fornecer equipamentos de proteção aos trabalhadores da linha de frente, analisar práticas de segurança no local de trabalho, gerenciar cronogramas de produção com turnos escalonados para atender aos requisitos de distanciamento social, alavancar tecnologias de automação e monitoramento remoto e implementar sistemas para redução de contato, como a Realidade Aumentada, para reduzir o toque e fornecer treinamento à força de trabalho.
Chegará um momento – ainda que não tão cedo – em que a pandemia terá desaparecido na história. Porém, os legados de resposta ao coronavírus, incluindo tecnologias de RA, quase certamente continuarão, se expandirão e acelerarão a transformação agora em andamento em direção a um futuro industrial muito mais resiliente, adaptável e digital.
Fonte: Ind 4.0
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