25/04/2022
A indústria caminha para um futuro de atividades integradas e digitalização. Mas, para isso, é preciso desenvolver sistemas inteligentes, capazes de se comunicar a todo momento e detectar problemas. Quando o assunto é solução digital e conectividade, a Siemens é uma referência mundial.
Sobre o que futuro nos reservas, a Agência de Notícias da Indústria entrevistou o Pablo Fava, CEO da Siemens no Brasil. Formado em engenharia eletromecânica pela Universidade Tecnológica Nacional (UTN), na Argentina, e com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fava entrou na Siemens como estagiário, na Argentina, em 1996. 24 anos depois, no outro lado da fronteira, ele se tornou Presidente da Siemens, no Brasil, em 2020. Ele é um dos membros da liderança da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).
Agência de Notícias da Indústria – A Siemens é uma das pioneiras e mais importantes empresas desenvolvendo tecnologia para a Indústria 4.0. Como vocês avaliam a evolução desse movimento no mundo e onde o Brasil está nessa corrida?
Pablo Fava – O desafio de fazer mais com menos é essencial para a indústria. A atratividade da transformação digital está ligada à perspectiva de retorno rápido a partir do aumento de produtividade, além das novas oportunidades de negócios. A Indústria 4.0 surgiu como forma de potencializar a integração de ferramentas digitais disponíveis para incrementar rendimentos e estabelecer novas formas de produção. Com isso, reduz-se drasticamente o tempo de lançamento de produtos customizados, agilizando processos e ganhando flexibilidade e eficiência com elevados níveis de qualidade. A Siemens desenvolve soluções que respondem aos desafios da transição para a Indústria 4.0, aumentando a competitividade das empresas, transformando-as em Digital Enterprises, com ganhos relevantes para o Brasil. O processo de transformação digital provocado pela implementação dos conceitos de Indústria 4.0 possibilitará um salto quântico na produtividade e competitividade, condição essencial para colocar a produção nacional em posição de destaque nas cadeias globais de valor.
É preciso ter foco nas necessidades dos clientes e mercados e cocriar soluções específicas, revendo e adequando estratégias de negócios para explorar ao máximo os potenciais de colaboração dentro da cadeia de valor. Modelos digitais de simulação estão aí para que possamos “errar” mais rápido e mais barato, convergindo para soluções otimizadas. Trata-se de uma mudança cultural que exige uma visão holística de como revolucionar processos, atividades, desejos e até configurar novas necessidades mediante as novas tecnologias. Isso gera oportunidades e viabiliza a criação de novos modelos de negócios.
No Brasil, existem muitas iniciativas governamentais, de entidades e de empresas que procuram nos posicionar fortemente neste contexto. As oportunidades para o Brasil estão em gerar um valor crucial para que as indústrias ganhem novos mercados internacionais, assim como para transformar a infraestrutura. Estas oportunidades são geradoras de emprego e melhoram a qualidade de vida da nossa população. O Brasil tem à frente a chance de colocar a produção nacional no compasso desta nova era, marcada por ganhos e agregação de valor viabilizados pela digitalização. É preciso, portanto, que as empresas, independentemente de seu setor ou tamanho, planejem e invistam em transformação de forma estruturada, considerando não apenas aspectos de inovação tecnológica, mas também a capacitação da força de trabalho.
ANI – Qual é o papel da tecnologia 5G nesse processo?
PF – A transformação digital e a adoção de tecnologias disruptivas são o caminho para garantir a competitividade industrial e assegurar a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor. Uma conectividade confiável, segura e poderosa viabiliza esta transformação, uma vez que a implantação dos conceitos associados à Indústria 4.0 e de aplicações da Internet industrial das Coisas (IIoT) depende de sua existência e disponibilidade. O 5G, por sua baixíssima latência, alta confiabilidade, alta capacidade de transferência de dados e de conexão de grandes quantidades de aparelhos é ideal para a comunicação máquina-máquina e IIoT. A Siemens vê um potencial muito grande no 5G como viabilizador da digitalização da indústria, do agronegócio e das cidades e ele surge como peça fundamental desse quebra-cabeça tecnológico.
ANI – Hoje, mais de 95% das indústrias brasileiras são pequenas e médias. A digitalização também é uma realidade para elas?
PF – As empresas, independentemente de seu setor ou tamanho, precisam estar atentas às transformações que possam provocar disrupção no seu setor. Ou, melhor ainda, devem procurar a forma delas mesmas provocarem uma mudança que as coloque numa posição de privilégio. A tecnologia que permite hoje essa transformação é a digitalização, e está disponível para empresas de todos os portes. Estas perguntas valem para todas as indústrias: é possível gerar uma vantagem a partir de uma transformação digital? E se outra empresa fizer isso antes? Qual seria a nossa situação?
Existem outras três perguntas básicas para se tornar uma Digital Enterprise: “por que é necessário fazer a transformação?”; “o que é necessário transformar?” e “como fazer essa transformação?”. A definição de um plano diretor é fundamental. Não existe uma receita única quando se trata de transformação digital e não podemos nos dar ao luxo de pensar apenas nas grandes empresas. Temos que visualizar a cadeia de valor como um todo.
ANI – Qual deve ser a estratégia para conseguirmos ter mais cidades inteligentes?
PF – Como pensar na digitalização da indústria sem pensar no contexto ou o ambiente no qual estão inseridas, ou seja, cidades, distritos industriais, cadeias de suprimento? Há uma demanda natural por infraestrutura inteligente, eficiente, mais sustentável e resiliente, para hoje e para o futuro. A Siemens, ao conectar sistemas de energia, edifícios, transporte e indústrias, oferece aos clientes um portfólio abrangente de ponta a ponta a partir de uma única fonte – com produtos, sistemas, soluções e serviços.
Não existe uma fórmula mágica para construir cidades inteligentes, o importante é que a inteligência seja aplicada para endereçar as necessidades das cidades. São Paulo, por exemplo, tem desafios com enchentes. A cidade precisa prever a situação e a localização das chuvas e canalizar/bombear essa água. Também há desafios com o trânsito, e modelos de simulação podem prever congestionamento e indicar semaforização ou investimentos adequados. Cidades turísticas, por exemplo, têm desafios rem relação à sustentabilidade, como água de reuso, geração distribuída renovável e mobilidade elétrica. Outras cidades, ainda, não têm saneamento.
ANI – Você poderia citar exemplos de projetos da Siemens nesse sentido?
PF – A Siemens tem portfólio ambiental baseado em energia renovável e eficiência energética e recentemente investiu no Brasil na geração solar (Brasol) e no armazenamento de energia (Micropower). Estas duas tecnologias combinam sustentabilidade e resiliência para as redes elétricas. Internamente, temos um programa de neutralização de emissões de carbono com meta mundial até 2030, mas a meta da Siemens aqui no Brasil foi antecipada para 2025. Já obtivemos redução significativa (aproximadamente 87%) e atualmente aplicamos a precificação interna de carbono, como forma de conscientizar e investir em projetos de descarbonização.
Na Expo Dubai 2020, a Siemens fornece tecnologias para garantir que os edifícios e outras infraestruturas do local se tornem parte de um legado duradouro. Inclusive, tivemos a honra de receber lá a delegação de empresários organizada pela CNI e liderada pelo Presidente Robson Braga. Cerca de 80% das tecnologias implementadas para a Expo permanecerão ativas depois de março de 2022, formando o núcleo de um novo bairro urbano sustentável de Dubai, conhecido como Distrito 2020. No local, a Siemens está demonstrando como os edifícios, as máquinas e as instalações podem ser conectadas usando o MindSphere, a plataforma IIoT como uma solução de serviço. O MindSphere é o sistema nervoso central da Expo que roda em segundo plano.
No Brasil, o melhor exemplo é o projeto Aguaduna, na região de Entre Rios no litoral norte da Bahia – uma cidade pensada nas bases da sustentabilidade. Imagine todos os dados de uma cidade conectados e analisados em tempo real. Isso é possível mediante aquisição de dados e o uso do MindSphere para a gestão e o uso de dados, desde semáforos, iluminação, serviços e atividades da cidade, reserva de posto de carregamento, situação dos espaços públicos, entre outros.
ANI – A pandemia acelerou o processo de digitalização no Brasil e processos mais sustentáveis. Quais são as tendências para o mundo pós-pandemia?
PF – Os desafios da Covid-19 aceleraram a transformação nas empresas, reforçando, por exemplo, a necessidade da adoção de modelos de monitoramento e operação remotos. O que percebemos é que empresas com maior grau de maturidade digital superaram a crise melhor do que aquelas menos preparadas, ou seja, aí está a resiliência de uma empresa à crise. Uma das razões é que a digitalização melhorou e agilizou suas capacidades de tomada de decisão. Essas empresas também alcançaram alta capacidade de agir de forma flexível durante a crise e continuaram com as operações comerciais. A crise da Covid-19 trouxe um efeito de aprendizado em muitas empresas.
As soluções digitais e automatizadas provaram ser especialmente eficazes neste cenário de pandemia. Essas tecnologias ajudarão a garantir que as empresas possam responder, com muito mais rapidez e eficiência, às situações de crise ou mesmo às constantes e cada vez mais rápidas mudanças nas demandas do mercado. Então, a pandemia acelerou a curva de adoção da transformação digital, e esta mudança chegou para ficar.
Fonte: Industria 4.0
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