Legenda da foto: Reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Dagoberto Almeida participou de debate sobre inovação nesta segunda-feira, na SME .
O DIÁRIO DO COMÉRCIO publica, a partir desta quarta, semanalmente, a série de reportagens “A era da inovação”. Nesta abertura da série, a explicação sobre o que é inovação e seus principais conceitos.
Nos anos de 1990 e primeiros do atual século, o abre-te sésamo do setor empresarial era a certificação. A empresa que não fosse certificada pela norma ISO não teria acesso aos mercados mais disputados no exterior, principalmente na Europa e Estados Unidos. O que se viu, então, foi uma verdadeira corrida pela certificação, inicialmente pela norma da qualidade, a ISO 9000. Depois, vieram outras, como a ISO 14000 a norma da certificação ambiental.
Com o correr do tempo, a certificação passou a ser o padrão. Quem não a possuísse realmente teria sérios problemas de mercado. Mas hoje, a norma ISO, que continua valendo, por si só não é mais um diferencial. Foi aí que entrou em cena outra palavrinha mágica no mundo empresarial: inovação.
A novidade veio na avalanche produzida pelo avanço da internet e das tecnologias a ela associadas, como os mecanismos de busca na rede, os aplicativos voltados para objetivos específicos e, mais recentemente, o desenvolvimento da inteligência artificial.
A era da inovação tem como face mais visível as startups, como são conhecidas as empresas que desenvolvem tecnologias e processos que não existem no mercado e que são, ou capturados por empresas maiores, ou transformados em negócios altamente lucrativos pelas próprias empresas que os criam.
O engenheiro Eduardo Gomes Braga Júnior, que integra a Comissão de Inovação da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), considera que a busca pela inovação sempre esteve presente na história da humanidade. Como exemplos de inovação, ele aponta a Revolução Industrial, no século 18; e, em seguida, no século 20, a implantação das linhas de montagem pela indústria. “A humanidade sempre foi inovadora”, afirma Eduardo Braga.
Para ele, o que diferencia a inovação de outros movimentos semelhantes é o uso intensivo da tecnologia da informação, embora isso não seja, como ele faz questão de ressaltar, condição para que uma determinada empresa possa ser considerada inovadora. Segundo ele, a tecnologia é o que as pessoas percebem mais facilmente. Porém, pode ser que em determinada empresa a inovação seja invisível ao consumidor por estar centrada em uma mudança no processo de produção.
Um exemplo disso: quando a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma das líderes em inovação voltada para o agronegócio, desenvolve a semente de um produto mais resistente a pragas, a tecnologia está presente no processo tecnológico que resultou no novo produto. Mas não na interface com o consumidor, como é, por exemplo, nos aplicativos de transporte individual presentes nas grandes cidades.
“O tecnológico é mais fácil de ser entendido. Mas também o tecnológico, para ser entendido, precisa de um modelo de negócio que, não necessariamente, está centrado na tecnologia”, explica Eduardo Braga.
Segundo ele, há dois padrões de inovação. Um é o incremental, que predomina, no qual as mudanças acontecem aos poucos. Mas há também o radical, no qual a mudança “aposenta” o padrão que vigia anteriormente, seja para produtos ou para processos.
Brasil no mundo – Ainda que inovação seja a palavra-chave do mundo dos negócios nos dias de hoje, o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente até poder ser considerado uma liderança na área. Em estudo divulgado no final de julho pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi) o Brasil ficou na 69ª posição em um ranking de 129 países pesquisados. O levantamento foi feito com base no gastos com educação e produção criativa, volume e sofisticação dos negócios. Em relação a 2018, o Brasil caiu duas posições, consolidando um movimento de queda que já dura dez anos. No bloco conhecido como Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul , o Brasil ficou na pior posição. O ranking da inovação é liderado pela Suíça.
Eduardo Braga considera que a pesquisa reflete a realidade atual do Brasil. “Nós somos muito mais consumidores do que gente que propõe coisa nova”, afirma ele. Tanto em modelos de negócios quanto na gestão de processos ou mesmo no desenvolvimento de novas tecnologias, o Brasil está, segundo ele, muito atrás de todos os países emergentes.
Como caminho para se superar o gargalo, ele defende o modelo da tríplice hélice, que uniria o governo, a iniciativa privada e as universidades, principalmente as públicas, que são onde, no seu entender, estão hoje os motores de busca da inovação no Brasil. “Essa aproximação é muito conveniente e muito necessária”, reforça Eduardo Braga.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o investimento em inovação, mais do que um modismo, é uma questão de sobrevivência para os negócios no país. Foi o que apontou pesquisa realizada pela instituição e divulgada no início de junho, durante o 8º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado em São Paulo.
O estudo apontou que um a cada três empresários acredita que a indústria brasileira precisará dar um salto de inovação nos próximos cinco anos se quiser garantir a sustentabilidade dos negócios em curto e longo prazos. Apenas 6% dos entrevistados consideraram a indústria brasileira como muito inovadora.
Laboratório de pesquisas – Lutar pela inovação foi o que, nesta segunda-feira, trouxe o reitor da Universidade Federal de Itajubá, Dagoberto Almeida, a Belo Horizonte. Em debate realizado na SME, ele protestou contra a suspensão das obras do Laboratório de Pesquisa e Inovação do Sistema Elétrico, que estava em construção em Itajubá. Quando estivesse em funcionamento, seria o sétimo maior laboratório do mundo – e o maior da América Latina – na área.
O projeto já consumiu, em obras de infraestrutura, R$ 41 milhões, dos R$ 450 milhões que compõem seu orçamento total. A próxima etapa seria o início da construção das edificações. Porém, a CNI, que está à frente do empreendimento, informou que o projeto está suspenso por falta de recursos.
Dagoberto Almeida afirmou que ficou surpreso em saber que o projeto está suspenso. “Na condição de dirigente de uma das mais tradicionais instituições federais brasileiras no campo do ensino e da prática da engenharia elétrica, a Unifei lamenta profundamente tal decisão. Afinal, um país próspero só é possível se houver efetivo desenvolvimento em ciência e tecnologia”, afirmou o reitor.
Em sua fala na SME, Dagoberto Almeida fez um balanço da evolução dos investimentos em ciência e tecnologia no Brasil nas últimas décadas. E foi cético quanto ao futuro: “Nós estamos perdendo a corrida. E essa é uma corrida permanente”, afirmou ele.
Fonte: Diário do Comércio.
Deixe um Comentário