10/11/2019
Para chegarmos às cidades sábias é necessário o engajamento do cidadão no processo de tomada de decisões sobre a adoção das soluções tecnológicas.
Benefícios e riscos das cidades inteligentes
A noção de “cidade inteligente” cresceu em popularidade nos últimos vinte anos.
Os fãs da revolução digital acreditam que as tecnologias de comunicação transformarão radicalmente nossas cidades, oferecendo uma vasta gama de novos serviços que simplificarão nossa vida cotidiana.
Mas isso também pode significar uma grande “rede de sensores equivalendo a milhões de ouvidos, olhos e narizes eletrônicos”, onde os cidadãos serão controlados por quem tem acesso a esses dados.
Em outras palavras, alguns temem que esse cenário destrua a democracia.
Barbara Branchini, da Universidade de Valência, na Espanha, discorda dessa visão pessimista: “O remédio é o engajamento do cidadão. Inteligente não é apenas uma cidade dominada pela tecnologia, mas um lugar onde a participação, a criatividade e a educação são promovidas. O engajamento do cidadão e a participação do cidadão no processo de tomada de decisões acompanha o desenvolvimento tecnológico.”
Cidades sábias
Branchini fala de sua experiência recente no projeto MAtchUP, da União Europeia, que visa implementar soluções inovadoras nos setores de energia, mobilidade e tecnologia da informação e replicá-las em cidades da Europa.
“Nós elaboramos um plano de ação cobrindo questões como educação e treinamento da comunidade, empregabilidade e empreendedorismo, políticas públicas e dados abertos. Nós também criamos um grupo de envolvidos (organizações, administração pública, empresas, associações de cidadãos) que atuarão como grupo principal e força motriz do projeto. Na verdade, os projetos europeus podem fornecer recursos adicionais para promover o engajamento dos cidadãos. E o engajamento dos cidadãos pode desencadear e reforçar os resultados dos projetos europeus. É uma situação em que todos ganham. “
Os analistas também estão convencidos de que o adjetivo “inteligente” atribuído às cidades deve ser substituído por “sábia”.
Algumas organizações já adotaram esse conceito, como a Energy Cities. Essa associação europeia, envolvendo milhares de governos locais de 30 países, declara em sua missão: “Acreditamos que a transição energética seja mais do que energia renovável ou grandes tecnologias. Trata-se de um uso sábio dos recursos, ao mesmo tempo em que fortalece a participação e o bem-estar locais de uma maneira geral”.
Tecnologia como ponte
O professor Francesco Schianchi, da Politécnica de Milão, na Itália, participou do projeto estudando as consequências antropológicas e sociais ligadas ao desenvolvimento tecnológico das cidades inteligentes: “A tecnologia é apenas um suporte; o centro deve ser o cidadão, o protagonista das escolhas e não apenas o destinatário do desenvolvimento tecnológico. O conceito de cidade da sabedoria corresponde à civitas dos latinos, que é a cidade das almas, dos habitantes, em oposição à urbis, a cidade das pedras, das estruturas.”
“O risco com o crescimento tecnológico da cidade inteligente é que os proprietários de megadados não apenas possam monitorar o que os cidadãos fazem, mas também entender sua vontade, possivelmente afetando o comportamento coletivo. Isso pode ser evitado se os cidadãos co-projetarem o espaço urbano de acordo com suas necessidades. Isso também leva à redução da exclusão social e da solidão, tornando as cidades mais adequadas para crianças, idosos e pessoas com deficiência.
“Um aplicativo para celular traz eficiência e redução de tempo, mas não é suficiente. A cidade da sabedoria foca na qualidade de vida, onde ninguém se sente excluído. E é isso que a tecnologia sozinha não pode alcançar sem a participação dos cidadãos,” acrescentou Schianchi.
Fonte: CIMM – Inovação Tecnológica.
Deixe um Comentário