17/08/2021
Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado há duas semanas mostra que empresas com tecnologias da Indústria 4.0 lucraram mais e conseguiram manter ou mesmo ampliar o quadro de funcionários durante a pandemia do novo coronavírus.
Um relatório da Global Industry Analysts Inc. (GIA), por sua vez, publicado em 14 de julho, afirma que o mercado global da Indústria 4.0, estimado em US$ 90,6 bilhões (aproximadamente R$ 475 bilhões) no ano 2020, está projetado para atingir a marca de US$ 219,8 bilhões (R$ 1,15 trilhão) até 2026.
Quarta Revolução Industrial
Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), explica que o termo Indústria 4.0 é uma de várias terminologias utilizadas para sintetizar um conjunto de novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas e que prometem resultados bastante expressivos do ponto de vista da competitividade e da produtividade das empresas.
“O termo [Indústria] 4.0 surge da estratégia alemã de desenvolvimento tecnológico industrial. Eles foram os primeiros a utilizar a Indústria 4.0, mas, na verdade, é um pouco do que os norte-americanos chamam de manufatura avançada e os franceses de indústria do futuro. A terminologia varia, mas o termo 4.0 vai ser firmando porque é uma referência clara à 4ª Revolução Industrial, por isso acho que este o termo é mais aderente a esse conjunto de tecnologias que vêm sendo desenvolvidas”, comenta em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.
Entre as diferentes tecnologias que fazem parte da Indústria 4.0, o especialista destaca a robótica, a inteligência artificial, a Internet das coisas, computação em nuvem, processamento de dados (big data), impressora 3D, entre outros.
“São um conjunto que novas tecnologias que têm o potencial de revolucionar a forma de produção das economias, principalmente a produção industrial, mas não apenas […]. Permite processos mais eficazes de produção com ganhos expressivos de produtividade.”
Fábricas de volta aos países desenvolvidos?
Desde a década de 1990, os países do Leste Asiático receberam muitas plantas produtivas industriais que anteriormente estavam em países desenvolvidos. Agora, com o desenvolvimento da Indústria 4.0, as grandes potências ocidentais querem recuperar essas plantas.
Rafael Cagnin comenta que EUA, China, Alemanha, Coreia do Sul, Japão, França e Reino Unido são alguns dos países que estão mais avançados no desenvolvendo de máquinas e equipamentos que vão viabilizar a nova revolução industrial. E todos têm interesse em desenvolver as cadeias globais de valor localmente.
“Todas essas tecnologias permitem uma reorganização das cadeias globais de valor. Ainda não é claro o movimento efetivo que vai acontecer […] [Mas,] por trás das tecnologias 4.0 existe também um interesse, principalmente dos países desenvolvidos, de resgatar as plantas produtivas industriais de volta para o seu território. […]. Isso é possível exatamente porque essas tecnologias prometem ganho de produtividade muito elevado e, consequentemente, mesmo que esses países tenham níveis salariais muito elevados, como a produtividade dessas tecnologias é também muito alta, uma planta produtiva 4.0 permite rentabilidade com salários muito elevados.”
Além disso, em momento crises como a pandemia atual é muito importante ter as bases produtivas localmente. O especialista ressalta ainda que a Indústria 4.0 é uma aliada no combate às mudanças climáticas.
“As tecnologias 4.0 são convergentes com a agenda de sustentabilidade ambiental porque podem reorganizar a cadeia produtiva, a distribuição da indústria, reduzindo transportes. Muitas tecnologias também permitem uma eficácia maior. A Indústria 4.0 e a sustentabilidade são eixos industriais do futuro que se comunicam se interrelacionam. As tecnologias 4.0 permitirão uma trajetória mais sustentável do desenvolvimento industrial”, garante.
Indústria 4.0 e o Brasil
O desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil ainda é bastante tímido. Rafael Cagnin recorda que nos países desenvolvidos o debate sobre essas novas tecnologias começou logo após a crise global de 2008, ou seja, há mais de dez anos esses começaram a desenhar políticas para esse fim.
“O Brasil leva muito pouco a sério esse tipo de debate. Não é um debate que está pautando a discussão econômica do país. Isso é um problema porque a Indústria 4.0 é tecnologia e inovação. No fundo, é isso que define o futuro dos países e o futuro das economias dos países, então a gente deixa muito a desejar”, lamenta.
O especialista afirma que há empresas brasileiras que estão se modernizando em direção a essas tecnologias. Mas são ainda ilhas de excelência tecnológica no sistema industrial brasileiro e não refletem a média das empresas do país, que, na verdade, ainda não incorporaram tecnologias da 3ª Revolução Industrial, ou seja, utilizam pouca automação e pouca informática. Mas a pandemia forçou algumas empresas a avançar para a transição.
“A crise da covid-19 teve um papel de acelerar esse processo e de evidenciar a importância dessas tecnologias para a gestão do trabalho, para a organização das empresas. Funcionou como incentivo quase que forçado. Muitas dessas transições para tecnologias mais modernas foram feitas compulsoriamente pela necessidade de realmente se adaptar aos protocolos de segurança sanitário”, comenta. (com agência Sputnik Brasil)
Fonte: Ind 4.0
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