02/09/22
Fevereiro de 2023. Essa é a data prevista para que o primeiro nanossatélite feito por uma empresa brasileira seja lançado ao espaço a partir de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. O VCUB, um projeto da Visiona (parceria entre Embraer e Telebrás) e do Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Sistemas Embarcados, ficará em órbita a 500 km da Terra. Com uma câmera de alta resolução desenvolvida pela empresa, o equipamento coletará dados que serão usados na área rural, munindo de informações o agronegócio, e na área urbana, por meio da Internet das Coisas (IoT).
“A ideia é que as imagens possam oferecer soluções integradas, especialmente para o agronegócio, mas também estamos vendo aplicações no ambiente urbano, na parte de cidades inteligentes, no combate ao desmatamento ilegal e na preservação dos biomas”, relata Danilo Miranda, gerente-geral do projeto pela Visiona.
Em desenvolvimento desde 2018, o lançamento do satélite será feito pela Falcon 9, um foguete de dois estágios projetado e construído pela SpaceX. “Estamos na fase final de montagem do satélite, que deve ser enviado aos Estados Unidos em dezembro”, conta Miranda.
O Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, localizado em Santa Catarina, é uma das 26 unidades da rede de inovação criada em 2012 para ajudar a indústria a inovar e a ser mais competitiva. Presente em 12 estados, essa rede atua em diferentes projetos de pesquisa. No Pará, por exemplo, a Norsk Hydro Brasil, em parceria com o ISI em Tecnologias Minerais (ISI-TM), desenvolve um projeto para recuperação de metais e produção de condicionadores de solo a partir de resíduos de bauxita. Um dos objetivos é incorporar os conceitos da economia circular na mineração.
Marcelo Montini, consultor químico sênior da Hydro, diz que o projeto visa à valorização do resíduo da bauxita, principal subproduto da cadeia produtiva da alumina/alumínio, por meio do seu uso como insumo para outras cadeias produtivas, como a siderurgia, e para o desenvolvimento de novos produtos, como con
dicionadores de solo para uso agrícola.
“A pesquisa faz parte do objetivo da Hydro de não precisar construir novas áreas de depósitos permanentes de resíduo, e de encontrar soluções que beneficiem outras indústrias e a sociedade”, afirma Montini.
Segundo ele, o desenvolvimento de alternativas para o aumento do uso do resíduo de bauxita é um desafio global. “Só para se ter uma ideia, são produzidos anualmente, no mundo, cerca de 150 milhões de toneladas de resíduo de bauxita durante o refino da alumina, usada na produção do alumínio. Apenas entre 2% e 4% do total produzido anualmente são utilizados em novos produtos”, explica. O resíduo de bauxita, complementa Montini, possui diversos elementos que podem ser aproveitados no desenvolvimento de novos produtos, em diferentes cadeias produtivas.
Promoção da competitividade
Adriano Lucheta, diretor do ISI-TM,destaca que a Rede ISI foi criada com o objetivo de promover o aumento da competitividade da indústria brasileira por meio da inovação. Em 2022, o Brasil ficou em 59º lugar no ranking de competitividade internacional, conforme o Anuário Mundial de Competitividade, feito pelo IMD (sigla para Instituto Internacional de Desenvolvimento Gerencial), da Suíça. “Todas as pesquisas desenvolvidas na rede são orientadas para as demandas das indústrias”, afirma Lucheta.
“O SENAI montou a mais forte rede de apoio à inovação da indústria brasileira, com resultados bem significativos, cada um com o domínio completo na sua área de competência, nas tecnologias das quais é provedor, com projetos que vão desde manufatura avançada a pesquisa de vacinas de RNA mensageiro”, reforça Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Desde que foram criados, diz ele, os ISIs atenderam a mais de 600 empresas e investiram mais de R$ 1,2 bilhão, distribuído em cerca de 1.500 projetos.
Lucchesi lembra que essa rede de apoio e incentivo também é composta por 60 Institutos SENAI de Tecnologia presentes em 17 estados e no Distrito Federal. No primeiro semestre de 2022, foram realizados, pelos institutos, 29 mil atendimentos, com 12 mil empresas envolvidas. Os Institutos SENAI de Tecnologia contam com mais de 1.700 especialistas e consultores para a melhoria de produtos e o aumento de produtividade e eficiência nos processos industriais, por meio de consultorias, serviços metrológicos e serviços tecnológicos em empresas.
Igor Manhães Nazareth, diretor de planejamento e relações institucionais da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), diz que os ISIs têm sido um vetor importante da inovação no Brasil. “Eles têm apoiado o desenvolvimen to de novas tecnologias e produtos que são demandados pelas empresas”, afirma
FlatFish e muito mais
Um dos casos de sucesso, diz ele, é o desenvolvimento do FlatFish. Parceria entre a Shell e o ISI em Automação da Produção, localizado no SENAI Cimatec, na Bahia, o FlatFish é um veículo autônomo submarino capaz de realizar inspeções visuais e em 3D de alta resolução na exploração de petróleo e gás em águas profundas. O FlatFish, em fase de industrialização, garantirá maior segurança operacional e ao meio ambiente, e reduzirá drasticamente os custos atuais em operações desse tipo.
Também localizado na Bahia, o ISI em Sistemas Avançados de Saúde trabalha em parceria com a HDT Bio Corp no desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19 com a tecnologia replicon de RNA (RepRNA), atualmente em fase de estudos clínicos. O imunizante é baseado na tecnologia de RNA composta por duas plataformas tecnológicas: o replicon de RNA (substância ativa) e uma formulação lipídica (LION). “Tudo isso coloca essa rede dos Institutos SENAI na vanguarda de um apoio à competitividade da indústria brasileira”, afirma Lucchesi.
Com cerca de mil colaboradores, os ISIs apoiam pesquisas em diferentes setores da indústria. Localizada em Aparecida de Goiânia (GO), a Green Valley Agro Tech está na fase final de uma pesquisa para transformar lodo de esgoto em fertilizante. Para isso, firmou parceria com dois ISIs: o de Biomassa (MS) e o de Biotecnologia (SP).
“Nosso projeto exige conhecimentos em diferentes áreas, e as especialidades dos dois institutos se complementam”, afirma Joanilson Mattos, diretor de desenvolvimento de novos negócios e PD&I da empresa.
A primeira parceria da empresa com a Rede ISI foi feita com o objetivo de pesquisar o uso de resíduos agroindustriais na produção de briquetes, um tipo de bloco compactado feito com materiais energéti cos como serragem, sabugo ou feno. Além do briquete, diz ele, foi possível desenvolver novos produtos utilizando os resíduos sólidos orgânicos como fonte de energia renovável na fabricação de fertilizante orgânico, insumos para nutrição animal e para aplicação na indústria farmacêutica e de cosméticos.
Além de reduzir o uso de fertilizantes no plantio, as pesquisas feitas em parceria com a Rede ISI também contribuem para o aumento da segurança em siderúrgicas. É o caso da parceria entre a Ternium e o ISI em Sistemas Virtuais de Produção, no Rio de Janeiro. Franz Ramstorfer, gerenciador de processos da Ternium no Brasil, explica que, a partir de uma iniciativa da unidade da Argentina, a empresa resolveu criar um programa de treinamento utilizando realidade virtual.
“Usamos a tecnologia de realidade vir tual para treinar novos colaboradores ou pessoas que estão entrando pela primeira vez na aciaria, a unidade de uma usina siderúrgica que transforma ferro gusa em aço. Por meio da realidade virtual, é possível andar pela aciaria para perceber e identificar riscos como ponte volante, caminhão e aço quente”, comenta o gerente.
Segundo ele, os colaboradores precisam estar preparados para entrar no local, vendo o ambiente pelo menos uma vez antes disso, de maneira virtual, para conhecer os riscos. “Esse treinamento aumenta a segurança. O resultado é melhor do que simplesmente fazer numa sala de aula, de maneira passiva. Ainda temos a parte teórica, mas agora agregamos a ela a realidade virtual”, explica Ramstorfer.
Também no Rio, o ISI em Química Verde, em parceria com a empresa Amazonly, do Amapá, utiliza resíduos oriundos da produção de óleos e manteigas vegetais amazônicos para geração de produtos de alto valor agregado. “Começamos com a produção de óleos e manteigas de vegetais amazônicos, mas a pesquisa foi ampliada para abranger a fabricação de medicamentos e produtos para pets”, explica Tatiana Balducci, sócia e diretora da empresa. Médica, ela diz que a ideia é agregar os conhecimentos das comunidades tradicionais da região na produção de produtos farmacêuticos advindos do bioma Amazônico.
Lixo vira fertilizante
A transformação do lodo de esgoto em fertilizantes, realizada com o apoio da Companhia de Água e Esgoto de Brasília (Caesb), inclui um processo de secagem e esterilização do produto, que, depois, poderá ser usado na agricultura como matéria orgânica. “Um dos grandes problemas que temos hoje é o que fazer com o resíduo líquido do lixo orgânico. Nossa pesquisa busca uma solução para isso”, diz Mattos. Ele espera concluir o processo de validação da tecnologia e de depósito da patente em 2023.
Com o objetivo de reduzir a quantidade de fertilizantes e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade na lavoura, a FertiSystem buscou o apoio do ISI em Soluções Integradas em Metalmecânica (RS). A parceria deu origem ao Servo, um sistema de sensoriamento para controle dos dosadores de fertilizantes. Evandro Martins, diretor-geral da empresa, explica que o fertilizante é um dos insumos mais caros na formação da lavoura no plantio de grãos, respondendo por 35% a 45% do custo.
“A ferramenta entregou mais precisão e uniformidade na adubação das lavouras e reduziu em até 20% a quantidade de fertilizante utilizado no solo”, afirma.
Martins diz que o Instituto SENAI de Inovação foi muito importante para o sucesso da empreitada, graças à expertise de suas equipes no atendimento das de mandas técnicas e do desenvolvimento de tecnologias de sensoriamento, motorredutores, softwares e hardwares. “Nos testes em ambiente relevante, utilizamos 14,5% menos fertilizante, com aumento de 5% na produtividade”, comemora.
No Paraná, o ISI em Eletroquímica (ISI–EQ) desenvolveu, em parceria com a empresa BMR Medical, um biossensor eletroquímico totalmente descartável e de baixo custo para detecção de HER2, uma molécula considerada chave para a identificação do câncer de mama por meio de biópsia líquida. Além de auxiliar os médicos, a metodologia desenvolvida pode monitorar a progressão da doença e identificar se a terapia utilizada está sendo eficaz no tratamento. Quando usado para diagnóstico precoce de câncer de mama, o biossensor pode contribuir para a cura do paciente.
Além da simplicidade operacional e do baixo custo para a construção do eletrodo descartável, o biossensor eletroquímico possui vantagens, como portabilidade e baixo custo, frente ao método de ELISA, padrão para detecção de anticorpos e antígenos. “Isso torna o dispositivo viável, podendo vir a ser utilizado em larga escala. O projeto foi pensado para auxiliar na tomada de decisão do médico, uma vez que existem diferentes tipos de câncer de mama e os do tipo HER2 positivo, por exemplo, requerem terapêuticas diferen tes de cânceres de mama do tipo HER2 negativo”, explica Camila Rizzardi Peverari, pesquisadora do ISI-EQ.
A reciclagem de baterias de carros elétricos é outra pesquisa em andamento no ISI-EQ, em parceria com as empresas Tupy e BMW. O objetivo é reciclar baterias de íon-lítio de veículos da BMWpor hidrometalurgia. Andre Ferrarese, diretor da Tupy Tech, explica que esse processo foi escolhido por consumir menos energia (cerca de 70% a menos que a pirometalurgia) e pela alta capacidade de recuperação dos metais nobres (90% a 95%). “O processo hidrometalúrgico habilita material reciclado com alta pureza em grau pronto para entrar novamente no processo produtivo de baterias”, pontua.
Com investimentos de R$ 3,4 milhões, o projeto abre uma nova rota para o uso de minerais reciclados na fabricação de baterias novas. Isso será feito por meio da ressíntese do material ativo do cátodo de uma bateria, com insumos 100% reciclados. A expectativa é de que os primeiros resultados sejam avaliados ainda em 2022.
Já em Campinas (SP), com o apoio do ISI de Biomassa (MS), a S Cosméticos do Bem desenvolveu um gel nasal e um enxaguatório bucal a partir de biomoléculas com ação antiviral extraídas da planta artemisia annua, planta cujo complexo fitoquímico possui várias aplicações terapêuticas. “Usamos uma tecnologia própria, totalmente inovadora, de extraçãodos princípios ativos, que possibilita o aproveitamento total dos óleos da artemísia, sem uso de solventes tóxicos ou poluentes”, explica a farmacêutica Soraya El Khatib, fundadora e CEO da empresa.
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