07/10/22
A instalação de sistemas de energia solar fotovoltaica disparou em 2022 no Paraná. De acordo com o Defis (Departamento de Fiscalização) do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), foram emitidas 14.404 ARTs (Anotações de Responsabilidade Técnica), relacionadas a projetos de sistemas de energia solar até 23 de agosto deste ano. O número é 77% maior do que as todas as ARTs de 2021, 8.114. O aumento é ainda maior em relação a 2020, que teve 2.514 ARTs. Somente em Londrina, o número de ARTs passou de 569, em 2021, para 1.324, um aumento de 132,68%, até 23 de agosto deste ano.
Além de Londrina, é possível constatar que houve crescimento no número de ARTs emitidas em todas as regiões. A distribuição pelas oito regionais até 23 de agosto estava assim: Apucarana – de 541, em 2021, para 845; Cascavel – de 2.110, em 2021, para 4.144; Curitiba – de 871, em 2021, para 1.302; Guarapuava – de 274, em 2021, para 586; Maringá – de 2.628, em 2021, para 3.731; Pato Branco – de 883, em 2021, para 1.729; e Ponta Grossa – de 191, em 2021, para 343.
O engenheiro eletricista Ricardo Bertoncello, de Vitorino, no sudoeste do estado, coordenador-adjunto da CEEE (Câmara Especializada em Engenharia Elétrica) do Crea-PR, conta que as fiscalizações no setor de energias renováveis eram recorrentes, e foram intensificadas em função do aumento expressivo de ARTs emitidas.
Uma das razões atribuídas a esse crescimento, segundo Bertoncello, foi a Lei 14.300/22, sancionada em janeiro deste ano, que instituiu o marco legal da micro e minigeração de energia – modalidades que permitem a consumidores produzirem a própria energia que utilizam a partir de fontes renováveis. Ela estabelece uma etapa de transição para a cobrança de tarifas de uso dos sistemas de distribuição por parte de micro e minigeradores. Até 2045, micro e minigeradores existentes pagarão os componentes da tarifa somente sobre a diferença — se esta for positiva — entre o consumido e o gerado e injetado na rede de distribuição, como já ocorre hoje.
A regra também valerá para consumidores que pedirem acesso à distribuidora em 2022, por meio do SCEE (Sistema de Compensação de Energia Elétrica). Além disso, o marco legal permite a participação no SCEE de empreendimentos criados para esse fim que tenham o objetivo de atender várias unidades consumidoras (como condomínios).
Há uma transição de sete a nove anos no pagamento dos encargos de distribuição por aqueles que começarem a geração após 12 meses da nova lei. Esses pagamentos são relativos à remuneração dos ativos do serviço de distribuição, da depreciação dos equipamentos da rede e do custo da operação e manutenção do serviço.
Para as unidades que protocolarem as solicitações de acesso entre o 13º e o 18º mês a partir da publicação da lei, o texto prevê que essas novas regras entrarão em vigor a partir de 2031. Há ainda benefícios para cooperativas de natureza rural.
REDUÇÃO DE PREÇOS DE EQUIPAMENTOS
“Além do novo marco legal, com prazo de transição até início de janeiro de 2023, tivemos a redução no preço dos equipamentos. Esse contexto atraiu muitos interessados. Nossa preocupação é que há muitas empresas vendendo e instalando sistemas de energia solar. Por vezes, são leigos, aventureiros que estão ‘surfando a onda’ e que não permanecerão no mercado. Mas, a falta de preparo pode custar caro para aqueles que não contratarem empresas idôneas e com registro no Crea-PR”, analisa Bertoncello.
Ele ressaltou que o setor já vinha registrando o aquecimento dessas instalações antes da implantação do marco regulatório. “Nos dois últimos anos esse aumento foi mais acentuado”, observou. Do ponto de vista financeiro, se um investidor tem R$100 mil e for para o mercado financeiro, ele teria que escolher um investimento de 23% para ficar compatível com investimento em um sistema de geração de energia solar fotovoltaica. “Não existe produto financeiro de baixo risco e renda fixa com essa rentabilidade. Rende quase o dobro dos melhores produtos financeiros em renda fixa”, declarou. Bertoncello declara que possui uma empresa que pretende instalar usinas solares no Norte do Paraná para vender cotas para investidores para quem não tem local para colocar os painéis, modalidade que consta na lei 14.300/22 como geração compartilhada.
LIGADOS À REDE
Questionado sobre a diferença de sistemas ligados à rede da concessionária de energia (on grid) e os isolados da rede (off grid), ele reforçou que a grande totalidade desses sistemas é conectada à rede porque só assim é possível fazer a troca. “Se durante o dia o sistema gera mais energia do que consome, ele injeta o excedente na rede e durante a noite pega de volta essa energia. Depois é feito o encontro de contas e se a pessoa consumiu mais energia do que produziu deve pagar a diferença. Se gerou mais do que consumiu, a diferença gera créditos que podem ser utilizados em até cinco anos.” Os sistemas isolados são indicados para regiões que não têm rede elétrica da concessionária. “Para sistemas residenciais só faz sentido se for local em que não for conectado à rede concessionária e é muito mais barato. O grande vilão da rede isolada é o custo das baterias e esse investimento só faz sentido se não tiver concessionária atendendo, pois o custo das baterias é muito caro.”
POUCAS CHUVAS
O engenheiro Arivaldo Rodrigues, da empresa Londrisolar, revelou que o crescimento do setor na empresa foi muito bom. “Este ano foram instaladas 100 unidades de sistemas até este mês, enquanto em todo o ano passado foram cerca de 50. O marco regulatório aqueceu bastante o mercado. e está trazendo números expressivos para o setor. A gente passou por um momento de poucas chuvas, as bandeiras tarifárias aumentaram e o valor da tarifa de energia aumentou muito devido à vazão hídrica reduzida. Chegamos a valores de tarifas nunca vistos antes e, neste momento, as pessoas ficam mais sensíveis no orçamento familiar e acabam fazendo investimento na energia solar”, declarou. Ele explicou que o menor sistema comercializado pela empresa possui quatro módulos fotovoltaicos e é voltado para pessoas que gastam entre R$ 250 a R$ 300. “A partir desses valores a instalação passa a ter viabilidade interessante, pois gera cerca de 220 kW/h ao mês, desde que instalados com boa orientação, com face norte e sem sombreamento. O custo de um sistema desses, que é o menor negociado pela gente, está na faixa de R$ 10 mil a R$ 12 mil, dependendo da marca e da empresa que fornece os equipamentos. Mas a média dos clientes residenciais têm instalado de 6 a 8 módulos, que chegam a 450 kW/h e 550 kW/h, dependendo da marca do equipamento.
Um dos equipamentos mais caros é o inversor solar, que é usado para converter a energia gerada pelos painéis solares de corrente contínua em corrente alternada. Ele explicou que existem dois tipos de inversores que podem ser instalados, os que são em linha (string) e os micro inversores MLPE (Módulos de Alta Performance), em que cada módulo gera energia de forma individualizada e não tem seu desempenho afetado por outros painéis. “O microinversor tem mais flexibilidade que o inversor em linha”.
DADOS DA ANEEL
O Paraná possui 45.352 GDs (Geração distribuída) por radiação solar com potência instalada de 563.832,5 kW, de acordo com dados da Aneel do dia 29 de setembro deste ano. São 392 municípios que já possuem GD com sistemas de energia solar no Estado. Para se ter uma ideia e ter uma base comparativa, a capacidade instalada (potência) da Usina Hidrelétrica de Itaipu é de 14 gW. Somente Londrina possui 2.008 GDs que possuem potência instalada de 25.674,15 kW, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Desse total 1.447 GDs são residenciais, que possuem potência instalada de 11.569,47 kW.
SANTUÁRIO COM PAINÉIS
O Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Norte do Paraná, na Vila Nova (região central), em Londrina, instalou recentemente 72 painéis fotovoltaicos que podem gerar até 5 mil kW por mês. De acordo com o padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário, esta é uma forma de contribuir, enquanto Santuário, com as questões ambientais e com a sustentabilidade do planeta.
“O outro motivo é em relação ao custo e benefício. O Santuário gastava de R$4 mil a R$ 5 mil por mês com a conta de energia elétrica e com esses painéis a economia será de aproximadamente R$ 4 mil , o que praticamente vai zerar os gastos com a energia. “Com esse recurso economizado consigo destinar a outras atividades. Fizemos o último teste na quinta-feira da semana passada (22) e na segunda-feira (3) a Copel deve trocar o disjuntor e tudo deve ficar pronto para a festa de Nossa Senhora Aparecida. Antes o Santuário alugava pontos de energia para a festividade. Um exemplo é a padaria do Santuário, que possuía seis fornos a gás e todos estão sendo passados para fornos elétricos.”, destacou.
Fonte: Folha de Londrina
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