22/07/2021
Implantada nos campus da UTFPR, Metodologia de Ensino Inovadora coloca alunos em busca de soluções para problemas reais das organizações
Uma das maiores queixas do ecossistema de inovação é a distância existente entre universidades e empresas. A aproximação entre esses dois entes transforma estudos desenvolvidos no ambiente acadêmico em realidade, ajuda empresas a encontrarem caminhos para seus desafios, e coloca alunos em contato com problemas reais do mercado.
Há quatro anos, o campus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Ponta Grossa desenvolveu um programa que faz a integração entre universidade e empresas. Por meio do MEI-U (Metodologia de Ensino Inovadora), a UTFPR publica um edital do qual participam empresas e alunos. A ideia é que os estudantes da universidade ajudem as empresas participantes a encontrarem soluções para um de seus desafios.
O programa foi institucionalizado, e agora ocorre em todos os campus da universidade. Em Londrina, este é o primeiro semestre do MEI-U. Participaram do edital três empresas – Indusbello, Pado e Hydronlubz – e seis alunos.
Para os estudantes, a participação no programa conta como uma disciplina optativa de 120 horas. A ideia é que cada curso inscreva pelo menos um estudante no programa, que tem caráter multidisciplinar.
“A ideia é direcionar as empresas para algumas possibilidades que possam melhorar aquele problema que têm, mas que não conseguem resolver por falta de tempo, de pessoas, ou por falta de recursos”, explica Marcio Florian, coordenador do MEI-U na UTFPR campus Londrina.
O programa também gera ganhos para os alunos e a universidade, avalia Florian. “Para os alunos é uma disciplina optativa. Todo curso tem uma carga horária de disciplinas optativas para fazer e você já tem interação com a empresa, pode pegar problemas reais que eles vão ver somente quando forem ao mercado de trabalho. Para a universidade também é bom por estar fazendo o papel dela que é sempre incentivar essa interação com as empresas e colocar as tecnologias que desenvolver, as pesquisas, dentro da empresa.”
MUDANÇA DE PROCESSO
Já faz um tempo que a Indusbello, indústria de produtos médicos e odontológicos, buscava uma solução para um problema do processo industrial. Trata-se do processo de serigrafia de um produto, que é manual e o tipo de tinta utilizado exige o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). “A gente queria melhorar esse processo, que houvesse alguma outra possibilidade de fazer isso, de repente por impressoras, alguma coisa nesse sentido que minimizasse os impactos do ambiente de trabalho, mas que também trouxesse um processo de produção mais fluido, mais tecnológico para essa etapa. Nas soluções que a gente testou do mercado, nenhuma proposta foi suficiente para sanar essa nossa dor”, conta Leonardo Beni, diretor da Indusbello.
A nova solução também terá de considerar que esse tipo de produto também passa por esterilização, processo que submete o produto a alta temperatura e umidade. “Se o produto não tiver os processos e os componentes validados para este processo, ele acaba não resistindo à esterilização. Por mais que existam outros processos produtivos que tragam o efeito visual que a gente quer, quando passa por esse processo de esterilização, ele se desconstrói. Essa que é nossa luta, achar uma solução que alinhe essas duas situações, tanto do processo de produção quanto de utilização do produto na ponta, submetido à esterilização”, explica Beni.
O MEI-U se insere no trabalho de gestão da inovação da indústria, com a interação entre diversos atores – universidades, startups, profissionais liberais. “Nossa proposta como empresa é inovação para uma vida saudável. Nosso papel como empresa e atuação na sociedade é identificar essas dores e tentar propor soluções para que isso seja minimizado no ambiente de saúde”, conclui Beni.
OTIMIZAÇÃO
A indústria de cadeados e fechaduras Pado, de Cambé, quer otimizar o processo de montagem na etapa de colocação do cilindro da fechadura. “Temos uma demanda grande de 6 mil conjuntos/dia e esse processo é um pouco limitado. A gente sabe que tem bastante oportunidade de melhora”, afirma Rafael Barboza Rocha, supervisor de Engenharia da Pado.
Para ele, trazer os alunos para o ambiente da indústria é trazer mais ideias novas para o dia a dia da empresa. “Temos um ritmo dentro da indústria. Quanto mais cabeças pensantes, mais ideias e mais soluções plausíveis. Outro ponto é que a gente vai ter mais colaboradores com a mente aberta, sem os vícios nossos do dia a dia, podendo enxergar coisas que não estávamos enxergando no momento.”
O programa também permitirá preparar alunos para que, eventualmente, se tornem até mesmo colaboradores da indústria, acrescenta Rocha. “A gente tem uma dificuldade grande hoje de trazer eles, treiná-los até aquela curva de aprendizagem. E com essa aproximação, a indústria já tem esse pessoal mais preparado para absorver.”
‘CHOQUE DE REALIDADE’
Para o estudante de Engenharia Mecânica Fernando Corrêa Marsico, participar do programa lhe dá a oportunidade de trabalhar as habilidades sociais, as chamadas soft skills. “Elon Musk fala que um dos grandes males dos engenheiros atuais é não saber se comunicar. Então não adianta nada a gente ter pessoas geniais e de alta inteligência se na hora de trabalhar em grupo a pessoa não tem a capacidade de se comunicar. E como ele mesmo fala, ninguém faz um foguete sozinho, a gente precisa muito saber trabalhar em grupo.”
A experiência do chão de fábrica também permite que os estudantes conheçam a realidade das indústrias, continua Marsico. “Na faculdade, quando a gente está aprendendo a parte teórica, a gente é ensinado em situações ideais. Ter contato direto com a empresa, pisar no chão de fábrica, acaba trazendo pra gente esse gostinho da realidade, o que de fato a gente vai enfrentar quando sair da universidade.”
INTERAÇÃO
Já passaram pelo programa empresas do Paraná ou de fora do Estado, como Embraer, Continental, Ambev, Faber Castell e Natura. Com a pandemia e os trabalhos remotos, podem participar de um mesmo projeto alunos de campus diferentes. “Com essas atividades remotas, você não precisa estar na indústria. De qualquer lugar que está, consegue participar. Isso facilita a interação. Estou participando de um projeto desde o ano passado com a Embraer em Botucatu e tem alunos de Ponta Grossa, Curitiba, Campo Mourão, Londrina, Cornélio Procópio. Você também não fica restrito aos cursos que tem na região.”
Fonte: Portal Futurista
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