30/04/2021
O Paraná vai ser o estado mais inovador do Brasil. Pelo menos é com esse objetivo que trabalha a Superintendência Geral de Inovação do Estado do Paraná. Para isso, o governo conta com o alinhamento “das três hélices”: estado, academia e iniciativa privada. “O Paraná já é uma referência em inovação. Tenho certeza que vai ser o grande player de inovação no Brasil”, afirmou o superintendente Henrique Domakoski, em entrevista ao Futurista.
Durante a conversa, ele ressaltou que o estado é bastante diverso e que cada região está num patamar de desenvolvimento dos ecossistemas de inovação. “Organizar isso é muito importante porque a gente consegue mais sinergia entre os atores. Muitas vezes algo que a região Norte faz muito bem falta no Sudoeste.”
Domakoski salientou que o estado não quer ser protagonista desse processo, que, naturalmente, são as empresas em consonância com a academia. “Inovação pressupõe liberdade de agir, de criar. Então a ideia não é engessar, muito pelo contrário. É estimular para que cada região encontre, dentro da sua vocação, o desenvolvimento mais rápido e com o ganho sinérgico de toda a estrutura do estado para apoiar”, alegou.
Durante a entrevista, ele também falou sobre a falta de mão de obra para atuar no setor de inovação e dos esforços que o governo tem feito para estimular os jovens a aprender a programar. E também a importância da Lei de Inovação, sancionada no último dia 20 pelo Executivo.
Veja os principais trechos da entrevista:
Como é a estruturada a Superintendência de Inovação? De que forma e quais players estão atuando com a superintendência? Quais as principais estratégias estão sendo adotadas neste momento de efervescência da inovação no Paraná?
São vários os atores que compõem a superintendência. Ela foi criada de uma maneira transversal a todas as secretarias e autarquias do estado. Mas existem alguns atores com os quais trabalhamos mais fortemente: Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná) e Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Fundação Araucária, Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), que são os atores mais relacionados à pauta de fomento a inovação. Além do setor privado, óbvio.
Eu gosto muito de falar que inovação é um esporte coletivo e, dentro dessa coletividade, o governo não é o protagonista. Os protagonistas têm de ser o empreendedor, a academia, o pesquisador. Dentro desse contexto, a gente tenta atuar ajustando a tríplice hélice para que ela trabalhe da melhor maneira possível, para que a gente possa fortalecer cada vez mais o ecossistema de inovação paranaense.
Sempre quando a gente fala de governo, a gente divide: porta para dentro e porta para fora, sendo que a porta para dentro tem uma pauta mais ligada à transformação digital, a fiscalização do serviço público, a busca por um governo mais enxuto. E quando a gente fala da porta para fora, a gente busca o desenvolvimento econômico, a criação de novas startups, geração de emprego e renda. Então, esses atores são fundamentais para que tudo aconteça da melhor forma possível.
O governo do estado está com uma iniciativa para estruturar o Ecossistema Estadual de Inovação. Qual o papel da superintendência nesse trabalho?
O Paraná já era conhecido como o segundo estado mais inovador do Brasil. Em 2019, foi o estado que mais cresceu em termos de geração de emprego, geração de renda, faturamento e tecnologia. Isso demonstra nosso potencial. O estado é muito diverso e nós temos vários ecossistemas regionais de inovação. Organizar isso é muito importante porque a gente consegue mais sinergia entre os atores. Muitas vezes algo que a região Norte faz muito bem falta no Sudoeste.
Inovação pressupõe liberdade de agir, de criar. Então a ideia de coordenar isso não é engessar, muito pelo contrário. É estimular para que cada região encontre, dentro da sua vocação, o desenvolvimento mais rápido e com o ganho sinérgico de toda a estrutura do estado para apoiar.
O que essa estruturação do ecossistema pode trazer de diferenciais pensando nas regiões do estado do Paraná? Como isso vai funcionar?
O Paraná é muito diverso. Não tem como governar um estado, do tamanho e com as diferenças do Paraná, olhando de dentro do Palácio Iguaçu. É muito importante estar na ponta porque a ponta, mais que ninguém, sabe dos desafios, das necessidades e, possivelmente, a solução para construir políticas mais adequadas.
Além disso, as regiões, quando se fala em inovação, têm graus de desenvolvimento muito diferentes. O que vale para uma região não vale para a outra.
Quando a gente busca a governança dos sistemas regionais de inovação, é mais no sentido de acelerar as regiões que estão em estágio inferior e trazer ganhos sinérgicos para aqueles que estão mais à frente, para que possam ainda mais acelerar seu desenvolvimento.
Quais são os principais gargalos dos ecossistemas de inovação paranaenses? Como a superintendência e o governo do estado podem auxiliar atendendo essas demandas?
Um grande gargalo não só do Paraná, mas do Brasil, é quando a gente fala da tríplice hélice. Temos governo, iniciativa privada e academia. Academia e iniciativa, principalmente, estão muito distantes. A academia produz muito, mas o que ela produz de conhecimento não transborda os muros da universidade.
Tanto a inciativa privada como a universidade não se reconhecem. Dentro desse contexto, a Lei de Inovação vai ser um marco significativo. Porque a gente busca incentivar essa aproximação entre academia e setor produtivo. Nossa estrutura do estado é muito ampla. A gente tem diversos ativos. As universidades têm polos universitários. O setor produtivo pode trabalhar aliado com as universidades e assim a gente pode acelerar o processo de desenvolvimento da inovação.
Falando no tocante à Lei de Inovação, outro ponto importante que a gente vai trazer é permitir que o estado se aproxime das startups, para que elas possam ajudar o estado a resolver seus desafios. Dessa forma, a gente vai estar utilizando o poder de compra público para estimular e fortalecer a inovação.
Outro ponto que é um desafio muito pontual é o falta de mão de obra. Temos mais de 15 mil vagas em aberto de programadores. As empresas pagam bem, mas não temos essa mão de obra. Esse é um ponto que não é um desafio só do Paraná, mas do mundo.
Agora, foram lançadas pela Secretaria de Educação 150 mil bolsas para programação, para jovens do ensino médio e fundamental, da escola pública. Vamos lançar também a Academia Digital, que é um programa para capacitação não só de jovens estudantes, mas jovens adultos em programação em diversas linguagens, já alinhado com as empresas. A gente vai dar hard skills e soft skills para que as empesas possam absorver essa mão de obra
Além disso, tem outro ponto importante no estado em relação à conectividade. Principalmente em áreas mais remotas, a gente precisa fortalecer a conectividade. Permitir que toda a tecnologia usada no mundo seja utilizada também no agro, para aumentar ainda mais a nossa produtividade.
Como você vê o futuro do ecossistema de inovação paranaense a médio e longo prazos? Onde o estado pode chegar?
Estou extremamente animado. O Paraná já é uma referência em inovação no Brasil. Com todo esse esforço do governo, alinhado com a tríplice hélice – aproximação da academia, setor produtivo e governo -, programas de aceleração de startups, tenho certeza que o Paraná vai ser o grande player de inovação no Brasil.
Como você avalia seu trabalho à frente da superintendência?. Quais conquistas você considera importantes para a área de inovação do estado até aqui?
Particularmente, eu avalio o com muito bons olhos o trabalho que está sendo feito até aqui. Acho que certamente, continuando nesse tom, vamos tornar o Paraná ainda mais inovador. Vai ser o estado mais inovador do Brasil. É o que todos queremos.
Nós temos trabalhado perto da ponta, dos ecossistemas regionais de inovação. Eles, mais do que ninguém, conhecem suas demandas. Estando perto, a gente consegue construir melhores políticas.
Somado a isso, a Lei de Inovação, que já está na Assembleia, vai ser um marco para o estado. Vai dar esse ganho da aproximação da academia com o setor produtivo. Vai dar esse ganho de aproximação das govtechs para auxiliar o governo, fazendo inovação aberta, que é algo que é tão falado, o mundo inteiro faz, e o governo fica de fora por não ter a questão legal que nós estamos sanando.
Criamos uma série de programas de apoio a startups. Fizemos dois hackathons. No ano passado, tivemos os dois maiores hackathons do mundo. Nós organizamos um e outro nós apoiamos Temos programas como o Centelha e o Sinapse, que são para apoiar startups em estágio um pouco mais avançado, dando recurso não reembolsável para que elas possam desenvolver seus produtos.
Estamos com o Tecnova aberto. Agora são R$ 10 milhões para apoiar startups, sem falar de outros produtos.
Por causa da pandemia, criamos o Startup Evolution, que foi um programa em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a PUCPR (Pontifícia Universidade Católica) para ajudar statups a atravessarem a pandemia. Selecionamos 350 startups.
O Saúde Tech Paraná foi outro programa no qual aceleramos o desenvolvimento de startups e soluções inovadoras no combate a alguns problemas provenientes da pandemia. Foram dez soluções apoiadas, que hoje já geram frutos. Estão no mercado gerando emprego. É uma série de iniciativas que o estado tem adotado.
Na Semana Paraná Inovador, no primeiro ano, reunimos mais de 5 mil pessoas no Palácio Iguaçu, falando sobre inovação. No segundo ano, fizemos online para mais de 20 mil pessoas: uma semana inteira com especialistas em diferentes lugares do mundo tratando de inovação. Então são alguns exemplos de todo esse trabalho que vem sendo feito.
Qual sua formação? Como você se envolveu nessa área de inovação?
Bom, eu gosto de falar sempre que sou um empreendedor, hoje servindo ao governo do estado a convite do governador Ratinho Junior, o chefe da Casa Civil, Guto Silva. Mas vim da iniciativa privada, atuei durante anos no mercado privado, fui vice-presidente da Associação Comercial do Paraná, estudei no MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos), que é uma das grandes escolas de negócio do mundo, uma referência em inovação.
Quando voltei, fundei a Troc, que se tornou o maior brechó online do Brasil e recentemente foi adquirida pelo grupo Arezzo. Eu já havia saído do dia a dia da companhia. E recebi o convite do governador para assumir a área de inovação do estado.
Tendo estado do outro lado do balcão, que dicas você dá para os empreendedores paranaenses que estão trabalhando em startups?
A dica é aprender a resolver problemas. Se você estiver resolvendo um grande problema, que impacta grande número de pessoas e elas estão dispostas a pagar por isso, você aí tem um business promissor. Claro que nada substitui o trabalhar duro e a resiliência. O que você atinge é proporcional à energia que você coloca em algo.
Outra dica é ficar atento aos editais do governo. Tem muita coisa que o governo faz que, às vezes, as pessoas não acessam.
Fonte: Portal Futurista
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