04/08/2021
Parceria entre Klabin, Institutos Senai de Inovação, startup e instituto de pesquisa suecos vai permitir desenvolver embalagens com sensores de matéria-prima renovável – a lignina
Em parceria com um instituto de pesquisa e uma startup suecos, a Klabin, maior produtora e exportadora brasileira de papéis para embalagens, e dois Institutos Senai de Inovação desenvolvem um projeto de embalagens inteligentes com sensores de matéria-prima renovável.
O grafeno utilizado na produção de sensores costuma ter origem mineral, mas com a pesquisa, o material poderá ser gerado a partir da lignina, biomaterial extraído das florestas brasileiras.
A técnica para transformar lignina em grafeno foi desenvolvida pela Bright Day Graphene, uma startup sueca que está envolvida no projeto. Também participam da pesquisa o Research Institutes of Sweden (Rise) Innventia AB, o Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica (ISI-EQ), de Curitiba, e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, do Rio de Janeiro. A pesquisa foi iniciada em maio e deve terminar em outubro de 2022.
“A lignina Kraft é um material relativamente novo no mercado. Transformar isso em um material, o grafeno, já é um desafio bem grande e tem outros desafios dentro do projeto que é ter o máximo possível de componentes renováveis nesse sensor final”, explica Marcelo Coelho, pesquisador especialista do Centro de Tecnologia Klabin, localizado em Telêmaco Borba.
O grafeno, já utilizado na produção de sensores, também é um material derivado de fontes não-renováveis e com custos de produção elevados. “Então você ter uma fonte diferente, e principalmente uma fonte natural, uma fonte renovável, é um dos aspectos que ligam muito à tecnologia, sustentabilidade e inovação e que fazem com que o projeto seja bem disruptivo”, destaca Coelho.
Ao trazer esta pesquisa para o país, a expectativa é ampliar o alcance da solução no mercado brasileiro. “A gente vai ter um conhecimento e o desenvolvimento tecnológico feito pelo Brasil, por uma empresa brasileira, no Paraná. E a gente trabalha em diversas frentes para isso crescer, para a gente conseguir a redução de custo, para que isso se torne viável cada vez mais, nessa frente e em todas as outras, até mesmo porque a Klabin é a maior produtora de embalagens aqui no Brasil”, pontua Renata Freesz, gerente de inovação da Klabin.
SMART PACKAGING
O smart packaging, ou embalagem inteligente, permite monitorar os produtos que estão sendo armazenados e transportados através de sensores. “A vantagem de utilizar o sensor em uma embalagem é que você tem a rastreabilidade daquele produto. Você sabe do começo ao fim o que está acontecendo com ele, e a qualidade do que está sendo transportado e armazenado”, explica Camila Rizzardi Peverari, pesquisadora líder da área de Smart Biosensors do ISI-EQ.
Ficará a cargo da equipe desta área desenvolver os sensores. “Nós incorporamos o grafeno nos sensores das embalagens e esses sensores vão permitir avaliar a qualidade dos produtos sem mesmo a gente abrir. O que é importante principalmente se esses produtos são de exportação, se ficam muito tempo armazenados ou mesmo transportados”, explica a pesquisadora. Ela destaca que os sensores serão impressos, portanto, vão ocupar pouco espaço nas embalagens.
As aplicações das embalagens inteligentes são as mais variadas possíveis – para localização, medição de temperatura, umidade e de impacto até para detecção de patógenos alimentícios, por exemplo. “Uma das principais queixas das empresas que necessitam importar materiais está relacionada à integridade física do que se transporta”, exemplifica Peverari. Um exemplo é o transporte de produtos congelados. “Se a gente tem um produto que sai do Brasil congelado, precisa chegar na China congelado. E muitas vezes chega congelado, mas você não sabe se durante esse processo houve um degelo.”
Outra aplicação é ajudar as empresas a entender qual a embalagem mais adequada para o transporte de cada tipo de produto, por meio da medição de impacto, resultando na redução de custos. “Muitas vezes a gente usa mais material do que o necessário por medo daquilo sofrer algum dano ao longo da logística. Isso gera uma redução de custos, porque eu posso dimensionar uma embalagem com maior exatidão e pontos específicos daquela embalagem que precisam ser mais protegidos. Isso também traz atributos de sustentabilidade, porque eu posso usar menos material”, detalha Freesz.
O smart packaging também traz ganhos de sustentabilidade ao permitir identificar o paradeiro das embalagens, acrescenta a gerente. “Quando a gente fala de economia circular, de reciclabilidade, a gente precisa ter a rastreabilidade daquela embalagem. Saber onde está e qual foi o destino dela se torna cada vez mais importante hoje em dia.”
CONFIABILIDADE
Segundo a pesquisadora do ISI-EQ, até 2020, 1% a 5% dos produtos no mercado brasileiros usavam QR Code como forma de interagir e informar o consumidor, enquanto na China esse índice chega a 99%. No país asiático, 65% dos consumidores acham que a presença do QR Code aumenta a confiança do cliente na marca.
No Brasil, mesmo que este mercado seja ainda pouco explorado, 75% dos consumidores brasileiros estão prontos para usar a tecnologia. “Eles se engajam neste sentido. Então é um mercado que pode ser muito explorado”, salienta Peverari.
As embalagens inteligentes, que utilizam sensores, por outro lado, vão além do QR Code ao monitorar atributos do conteúdo da embalagem, o que dá mais segurança para o consumidor, para a fabricante e outras empresas da cadeia.
“A gente se assegura dos parâmetros que estão sendo monitorados, da rastreabilidade, da experiência interativa com a marca, porque isso muitas vezes nos fideliza. A gente vê que a empresa está investindo, sabe o que está acontecendo, o que foi utilizado naquele produto. A gente tem uma necessidade muito grande de entender o que tem no produto, se é feito a partir de fontes renováveis, se é um produto vegano, porque isso faz parte da nossa escolha dos produtos”, comenta Peverari.
Fonte: Portal Futurista
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